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NEFUP
Núcleo de Etnografia e Folclore da Universidade do Porto
Não poderemos nunca separar os ciclos do pão e do vinho e as suas tão ricas fases típicas como as desfolhadas, as malhadas, as vindimas e o lagar, das principais festividades sacras e pagãs, dada a proximidade constante das componentes lúdica e laboral, evidenciada, por exemplo, na riqueza musical das cantigas ritmadas pelos movimentos do trabalho executado. Nem tão pouco poderemos evidenciar esta ou aquela manifestação popular como única ou mais importante, dado que é na sua coexistência que se constrói todo um sentir de um povo.
A dança, surgida espontaneamente nos adros das igrejas e nas eiras durante as desfolhadas, e perfeitamente enquadrada na época, na cultura e no gosto de uma região, é mais uma dessas peças, ao lado da quadra brejeira, da cantiga de amor ou de escárnio e maldizer, da melodia pastoril ou do saltitante cavaquear das cordas numa rusga de S. Martinho, na cena de trabalho pachorrento ou do contentamento desmedido na representação de uma lenda num intervalo de uma malhada. Muito menos poderemos ainda separar a história de um grão de trigo do nascimento de uma criança, em cima da palha de um espantalho. Este espetáculo é mais um desafio à passividade com que nós mesmos tantas vezes encaramos a divulgação do Folclore, e sua preservação, como riqueza incomensurável da cultura de um Povo.
António Augusto
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